Os últimos trabalhos do Warcollapse evidenciavam: os caras tinham uma propensão melódica cada vez mais acentuada. O Slutet surgiu para que conseguissem colocar full time essas ideias em prática, e desde então não pararam de gravar: são três álbuns de estúdio em quatro anos, fora alguns lançamentos picados aqui e ali. O último disco, “Bortom Vansinnets Grepp”, surge como o melhor dos caras até aqui – doze composições concisas e perfeitamente produzidas, que bebem tanto na fonte de Tragedy e assemelhados quanto na do mais puro e hostil d-beat escandinavo. O guitarrista Ea (ele, um dos Warcollapse aqui presentes) nos conta um pouco mais sobre essa imparável máquina crust.
Monophono: Podemos dizer que nesse momento o Slutet é o principal projeto dos envolvidos com a banda?
Ea: Sim! O Slutet é uma banda de fato, da mesma forma que as outras formações com as quais estamos envolvidos o são. Todos no grupo tocam em seus próprios projetos, e não temos o costume de considerar nenhum deles apenas algo “paralelo”.
Monophono: Mesmo que eu veja algo da fase “Crust as Fuck Existence” do Warcollapse no som do Slutet, as duas bandas são essencialmente diferentes. A intenção era fazer algo inteiramente novo, desde o início? Ou existe mais do Warcollapse no Slutet do que a gente possa imaginar?
Ea: Apenas fazemos o tradicional d-beat sueco da nossa maneira, com influências de metal e hardcore, juntamente às da cena punk. Ea (guitarrista) é o responsável pela composição de todo o material do Slutet; a partir daí arranjamos as canções quando estamos todos juntos, reunidos para ensaiar. Vejo semelhanças entre o Warcollapse e o Slutet somente no fato de três de nós tocarem com eles também, mas as influências de ambas são bastante diferentes.
Monophono: A parte estética da banda prima por imagens “borradas”, fotografias de vocês são raras e o minimalismo toma conta dos encartes. Nesse caso específico, menos é mais?
Ea: Mais ou menos por aí (risos)… Na verdade a intenção no início não era cultivar o nosso anonimato ou coisa assim; mas, graças às nossas escolhas, tudo acabou rumando para essa direção, sem que fosse algo premeditado.
Monophono: A vocalista Amyl Nitrate é um membro oficial do Slutet? Ou apenas fez suas participações no álbum como convidada especial?
Ea: Ela agora faz parte do conjunto sim, oficialmente. No início era apenas uma participação especial mesmo; mas, durante as gravações em estúdio, percebemos que era absurdo não convidá-la para se tornar parte da banda, junto de todos nós.
Monophono: O som do Slutet está mais conciso do que nunca em “Bortom Vansinnets Grepp”. Esse era um dos objetivos a se alcançar com esse disco?
Ea: Sempre buscamos fazer as coisas o melhor que podemos, a todo instante melhorar e melhorar, e acabou que dessa vez tudo se encaixou nos lugares certos! A produção do disco está irrepreensível, um grande trabalho mesmo.
Monophono: Pois é… A produção de Kenko e o estúdio Communichaos Recordings já se tornaram parte integrante da música de vocês?
Ea: Sim. Temos muito a agradecê-lo pelo resultado final dessa gravação, e também por saber o que queremos para ajudar-nos a chegar ao som que realmente buscamos.
Monophono: Cantar apenas em sueco é uma declaração de princípios para vocês? Ou aconteceu sem ser previamente planejado?
Ea: Decidimos cantar somente em sueco desde o dia em que iniciamos os trabalhos com a banda. Jalle e Peter (vocalistas) se sentem mais confortáveis assim, embora normalmente componham em inglês nos outros projetos que participam.
Monophono: Temos uma canção chamada “Pandemi” nesse último disco… Como é estar tão em sintonia com o noticiário mundial? O Covid-19 já era uma ameaça quando vocês a compuseram?
Ea: Essa música já estava pronta desde épocas em que ninguém sabia da existência do Covid-19 – creio que foi composta por volta de 2018. Mas hoje em dia parece que foi direto ao alvo, encaixou-se perfeitamente com a realidade na qual estamos mergulhados agora.
Monophono: E a homenagem ao Candlemass, “Epicus Doomicus Crustus”? Eles influenciaram vocês de alguma maneira?
Ea: (risos) Jalle na verdade era quem deveria responder a essa pergunta… Mas eu diria que sim. Temos influências de bandas de metal diversas, como o próprio Candlemass, Black Sabbath, e mais um monte de outras.
Monophono: A banda editou uma quantidade bastante razoável de material até agora – três álbuns completos, um EP e um split em quatro anos. A experiência torna tudo mais fácil?
Ea: Sim, já possuímos uma boa quantidade de coisas lançadas, e vem mais por aí em breve. Componho músicas para o Slutet já há um bom tempo, então temos praticamente um trabalho em tempo integral, um emprego “full time”, se preferir (risos), para ensaiá-las e para gravar tudo.
Monophono: Todos os selos que trabalham com o Slutet são de fora da Suécia, com a óbvia exceção da ByeBye Productions. Por quê?
Ea: É a forma na qual as coisas aconteceram… Independente de onde o pessoal viva, o bom é poder trabalhar com uma galera genial como essa.
Monophono: O Slutet se vê lado a lado com bandas como Martyrdod e Myteri, que pulam de cabeça nos aspectos mais melódicos do crust?
Ea: Nós somos um pouquinho melódicos sim, mas não como eles… As duas soam diferentes da gente. Nossa meta desde o início é possuir um som com personalidade própria.
Monophono: Três discos do Slutet foram lançados no Brasil até agora. Como o pessoal daqui tem reagido à música de vocês?
Ea: Sim, recebemos uma resposta bastante positiva de vocês do Brasil – aproveito para agradecer ao Bruno (da Criminal Attack Records, responsável pela edição dos discos da banda por aqui)! E a expectativa é retribuir a tudo pessoalmente, com uma turnê brasileira no futuro. Obrigado pelo interesse na gente!
Revisão do texto em inglês: Gabriela Parisi Ramos (gparisi88@gmail.com)
Ouça na íntegra o primeiro álbum do Slutet:
Ouça na íntegra o segundo álbum do Slutet:
Ouça na íntegra o EP 12″:
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