MOPHO: BEASTIE BOYS ADOLESCENTE VIRA QUARTETO PUNK NA TV AMERICANA

Os Beastie Boys sempre driblaram, primeiramente na malandragem e depois por merecimento, a alcunha limitadora de “rap de branco”. O trio nova-iorquino é responsável por um dos maiores sucessos de vendas do gênero, “Licensed to Ill” de 1986 – disco esse que tem muito mais atrativos do que somente seu desempenho comercial: as batidas irresistíveis, a precursora mistura de hip-hop com metal (o sample de Black Sabbath em “Rhymin’ and Stealing”, Kerry King do Slayer nas guitarras de “No Sleep ‘Til Brooklyn”), a postura irreverente que hoje seria rotulada como “politicamente incorreta”… Um trabalho de caráter até mesmo visionário, porralouca com substância, hormônios adolescentes cuspindo fogo enquanto forjam uma obra que resume seu tempo. O respeito definitivo seria conquistado a partir do segundo LP, “Paul’s Boutique” de 89, que firmaria os BB como experimentadores incansáveis, argutos para com as parcerias (desta feita, com os incensados Dust Brothers) e surpreendentemente maduros para quem tanto investiu na faceta “espinhentos fora de controle” com o álbum anterior. E, mesmo que Paul’s… tenha confundido a todos na época de seu lançamento (tamanha evolução não se digere do dia pra noite), já se pavimentavam as bases para o trabalho mais sério e desbravador que o grupo desenvolveu até a morte do MCA Adam Yauch, em 2012.

Porém, não é segredo que, antes de se descobrirem rappers, houve o punk – e o Mopho dessa semana traz uma apresentação dos caras na TV nova-iorquina em 1984, época pré-“Licensed to Ill” e com Kate Schellenbach, do Luscious Jackson, na bateria. Antes, falemos sobre o programa: o Scott and Gary Show foi transmitido nos EUA de 83 a 89 via cabo, e conhecido por dar suporte a atrações underground – dificilmente algum outro veículo abriria espaço a nomes tipo Butthole Surfers e Half Japanese, como eles fizeram. Os Boys marcaram presença com três músicas, todas em um pique meio TSOL (incrível como essa banda foi influente no período), e que pouco possuem em comum com o material que consagraria o trio. Estranhamos inclusive a atitude: Yauch, o futuro Mike D Michael Diamond e o AD-Rock Adam Horovitz todos tímidos, de cabeça baixa, visivelmente desconfortáveis, distantes da imagem de sujeitos viciados em festa estabelecida dois anos depois. Mas a petulância já se fazia notar: segundo a Wikipédia dos apresentadores, no trajeto até o estúdio eles se questionavam se deviam mesmo participar de atrações de pequeno porte, afinal estavam destinados ao megaestrelato… Declarações recentes de Diamond e Horovitz dão conta do arrependimento de ambos em demitir a baterista Kate – e ela é sem dúvida o destaque aqui. Confira a seguir, portanto, esse Beastie Boys imberbe e “circlejerkiano”.

Beastie Boys ao vivo no Scott and Gary Show:

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