O NOVO ROCK SUECO, PARTE 5: NIGHT, HALLAS E NEPHILA


Uma vocação natural do músico sueco é criar tendências. No som extremo essa propensão toma quase sempre vulto de febre mundial (nem preciso citar a quantidade de seguidores que as cenas Death Metal de Estocolmo e Gotemburgo geraram, assim como o Grindcore a la Nasum, isso pra ficar em somente dois exemplos). Porém, como já dizia o nosso 365, ninguém é universal o tempo inteiro – então, as bandas do país permitem-se, vez ou outra, dar uma respirada em relação a essa missão de ser eternamente referência planetária e incorporam sem pudor influências exteriores das mais diversas. Isso de forma alguma resulta em trabalhos derivativos ou destituídos de interesse, contudo: os três conjuntos aqui listados, calcados em estilos como o Metal, o Rock Progressivo e a Psicodelia, demonstram predicados para além de suas opções estilísticas, e destacam-se por jamais utilizar os gêneros escolhidos como escora, mas sim como norte para, a partir deles, as fagulhas surgirem. Vamos a eles.

NIGHT

Linköping, capital da província de Östergötland, encontra-se no sul da Suécia. Com 115 mil habitantes em 40,9 quilômetros quadrados de território, tornou-se globalmente conhecida quando o assunto é música por ser a terra natal de Tobias Forge, o Papa Emeritus do consagrado Ghost. O Night aqui merecia destino similar: “thinlizzeano” até a medula, encharcado daquele espírito Rock’n’Roll que a NWOBHM do início depois transformaria em Heavy Metal, melodioso e elegante tal qual um gigante AOR em plena maturidade, o som do quarteto é feito com apuro de dar gosto.


Lembra um pouco o trampo do norte-americano Haunt, pois, assim como seus correlatos ianques, também aberto a referências alheias ao som pesado (a guitarra de “Crimson Past” é puro Dire Straits!). Quatro álbuns de estúdio na bagagem – os dois últimos, “Raft of The World” e “High Tides – Distant Skies”, lançados na Europa pelo onipresente selo The Sign, ganharam versão nacional, cortesia da Hellion Records.


 

HÄLLAS




Vindos de Jonköping, cidade já apresentada por aqui graças ao Grande Royale, o Hällas é provavelmente o mais progressivo de todos os nomes listados nessa coluna até o momento – e, lado a lado com o Vokonis atual, uma das poucas preocupada com textura, elemento esse tão em desuso dentro do cenário musical moderno.





O trabalho desse quinteto é fora de série: como se a “Starship Trooper” do Yes realmente ganhasse o espaço sideral, impulsionada por generosos inserts de Uriah Heep e Deep Purple, o som do grupo condensa diversos elementos do Rock técnico dos anos 70 (inclusive emula as famosas “guitarras gêmeas” do Wishbone Ash, influência mais do que notória em todo seu material) e a eles adiciona uma levada galopante de efeito místico/medieval, que faz o termo “épico”, tão maltratado por recentes modismos juvenis, voltar a ter algum significado. Dois álbuns: “Excerpts From a Future Past”, pela The Sign (claro) em 2018, e Conundrum, de 2020, que a Hellion lançou no Brasil.


 

NEPHILA




Essa rapaziada acaba de chegar ao primeiro disco, mas estão acampados ali nos anos 60/70 (uma canção chamada “Mushroom Creatures” não deixa dúvida sobre suas intenções lisérgicas, certo?); investem em uma estética bicho-grilo meio fantasmagórica, com músicos mascarados cujas identidades são mantidas em segredo, e uma imagética etérea, quase um conto de fadas visual. Não revelam sequer sua procedência: como as duas cantoras são ex-integrantes de outra formação retrô sueca, o Children Of The Sun (do qual falaremos em breve), presume-se que o Nephila venha da mesma cidade, Arvika (sobre ela entraremos em detalhes apenas quando chegar a vez do COTS – até porque o que interessa ao septeto em questão aqui é a criação de um mundo próprio, fantasioso, desvinculado da concupiscência mundana).


Obviamente editado pela The Sign Records (quem mais?), o debut auto-intitulado impressiona: suingado, repleto de Hammonds malandros, algo de NWOBHM nas afinadíssimas harmonias dos refrões, vigor Rock à toda prova. Curtiu o Heavy Feather? Vai sem medo que a festa é sua.




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