O NOVO ROCK SUECO, PARTE 6: CHILDREN OF THE SUN, CHARLOTTA’S BURNING TRIO E SWEET TEETH




Gosto de, na medida do possível, manter certa uniformidade nessa coluna – escalar três bandas de sonoridade similar, ou ao menos com algum elo em comum (cidade de proveniência, influências, estética, etc). Mas, como a maturidade nos ensina, também é importante estimular a diversificação: música na Suécia é território de abundância e amplitude; se faz benigno, portanto, buscar contato mais amplo com esses tantos universos disponíveis, e assim descobrir caminhos antes sequer imaginados. Nessa semana, Rock Retrô, som de Garagem e Fusion – os dois primeiros, estilos de maciça presença nas formações do país nórdico; o terceiro, nem tanto… Ou será que é o contrário, e ainda não sabemos? Eis aí a deixa perfeita para que comecemos a procurar conterrâneos similares, e então mais uma vez nos surpreendermos com a capacidade artística desse povo que já parece nascer com uma guitarra pendurada ao pescoço.

CHILDREN OF THE SUN

Anunciei que falaria desse pessoal na coluna passada – eis, então, esses maníacos Vintage vindos de Arvika, parte integrante do condado de Värmland e que comporta pouco menos de 15 mil habitantes em seus quase 11 km2 de território. Cidade artística por excelência (um dos seis cursos superiores de música da Suécia, a Ingesund College, localiza-se por ali), e montanhosa por natureza, é o cenário dos sonhos de qualquer bicho-grilo incurável.





O Children Of The Sun parece surgido diretamente das costelas de um Jefferson Airplane (o obrigatório vocal feminino cá se encontra, inclusive); seu único álbum até aqui, “Flowers”, editado em 2019 pela (adivinhem!) The Sign Records, é um autêntico piquenique Hippie de melodias esmeradas, clima ao mesmo tempo bucólico e idealista (crê no campo, na flor e no sol como salvadores do gênero humano), teclados suaves, percussão discreta. Tire a bata do armário e rodopie pelo gramado ao som de belezuras como “Her Game” e “Like a Child”.


CHARLOTTA’S BURNING TRIO




Naturais de Mälmo, e liderados pela moça que dá nome ao grupo, a jazzista Charlotta Andersson, a produção do CB3 condensa diversos gêneros musicais em um trabalho inteiramente instrumental, e que já conta com alguma rodagem (primeiro lançamento data de 2015; outros full lenghts, EPs e discos ao vivo o seguiram). Soar como se fosse uma colagem low key de Morphine, Boris e Primus (todas, em maior ou menor grau, com influências de Jazz e/ou Rock Progressivo) pode parecer insólito, mas nas mãos desses três torna-se mais do que funcional – e a adição de um saxofone esquizofrênico a la Melvins/Nightstick faz tudo ficar extravagantemente cativante.





Quem curte nomes com inclinações mais “Eruditas” ou Experimentais em seu virtuosismo, como Animals As Leaders ou o Omar Rodriguez-López solo, irá pagar um pau – portanto, se essas mal traçadas aguçaram seu interesse, dê especial atenção para o grande momento da trupe, a sensacional “Acid Haze”, linkada logo abaixo:


SWEET TEETH



O Rock Alternativo sueco possui algumas características distintivas: é mais pesado do que a média, idolatra College Sound norte-americano em suas rendições mais Bubblegum, equilibra-se entre o drama adolescente e o Power Pop com admirável destreza. Formado por caras com experiências em sonoridades bem mais pesadas (Year of the Goat e Disfear entre elas), o quarteto Sweet Teeth cita Hüsker Dü entre suas grandes influências – e jamais o desabona: a partir daquela habilidade para transformar melancolia em melodia típica do trio liderado por Bob Mould, os caras adicionam elementos Garage Old School (Dinosaur Jr, por exemplo), algo daquele Shoegaze britânico feito nos anos 90 (Teenage Fanclub), e som comercial estadunidense de boa cepa (Goo Goo Dolls, Beach Slang).





O resultado está no EP “Acid Rain”, lançado pela Lovely Records em julho último, emocional na medida certa, agridoce feito qualquer desilusão, visceral como todo coração que sangra. Que venha logo o primeiro disco completo.

Deixe um comentário