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Nação desde sempre fervilhante culturalmente, a Itália legou ao mundo gênios universais como Michelangelo, Leonardo da Vinci e Paganini, admirados há séculos por qualquer ser que respire – pois bem: você sabia que, além de criações que mudaram o curso da humanidade como a Capela Sistina, o Homem Vitruviano e as “Cenas Amorosas Para Duas Cordas”, o país também é responsável por uma vivaz e atuante cena Stoner Rock? Isso aí! Mesmo que ainda bastante subterrânea, a movimentação das formações dedicadas ao estilo na nossa querida Bota é incessante, e suas ramificações já frutificam fartamente em subgêneros como o Sludge, o Post-Rock, o Doom Sabbathiano e a música instrumental. Duas gravadoras concentram majoritariamente a produção de lá: a Heavy Pshych Sounds, de Roma, e a Argonauta, de Génova – comecemos então nosso apanhado das bandas locais com três dos mais proeminentes nomes contratados da primeira (a ideia é alternar os selos sempre que possível). Aguarde que em breve tem mais.
1782
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A Heavy Pshych Sounds apostou alto nesse trio, e se deu muito bem. Vindos da comuna de Ossi, na região da Sardenha, segunda maior ilha do Mediterrâneo situada a oeste da península itálica, o grupo busca inspiração estética/lírica em um acontecimento específico: o julgamento de Anna Goldi, ocorrido no ano que batiza o conjunto e o último que sentenciou à morte uma mulher tida como “bruxa” em solo europeu. Pois a temática já escancara o que para bom entendedor bastaria meio riff: Doom clássico renitentemente ajoelhado ao genuflexório de alcunha Black Sabbath, sombrio feito uma masmorra, lento e retilíneo à maneira do velho Saint Vitus, e com uma fantasmagórica distorção que destaca o contrabaixo como se fosse a verdadeira mão do destino, o implacável perseguidor espiritual que julga e sentencia sem sinal de clemência.
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Dois discos na conta: “1782“, de 2019, e “From The Graveyard”, lançado ano passado (um split com o quarteto grego Acid Mammoth foi editado em 2020).
BLACK RAINBOWS
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Da capital Roma surge o Black Rainbows, trio formado em 2005 e que já acumula oito álbuns full lenght, cinco deles pela Heavy Pshych Sounds (e isso não é à toa: o selo pertence ao guitarrista/vocalista Gabriele Fiori). Bastante calcado em Kyuss, principalmente nas texturas “espaciais”, e também em Nebula, sobretudo em seus momentos mais suingados, o som dos caras possui raiz e identidade inegavelmente ianques, porém com personalidade e energia suficiente para imunizar-se de qualquer pastiche.
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Em uma discografia repleta de cruas odes ao Rock’n’Roll (“Supermothafuzzalicious!!” de 2011), de atmosferas áridas com clima de deserto lunar (“Pandaemonium”, de 2018), e do baixo como protagonista (o excelente “Cosmic Ritual Supertrip”, de 2020), é em “Holy Moon” de 2013 que a banda melhor condensa sua colcha de referências – recomendamos especial atenção a “Black to Comm”, tema que, à maneira de um Monster Magnet mais épico, compendia em si tudo o que importa ao Black Rainbows.
APE SKULL
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Mais um trio, este também romano. Se o 1782 destaca o assustador timbre lodoso do contrabaixo, o Ape Skull apresenta preocupação com o lado mais melódico e técnico do instrumento, particularidade tipicamente sessentista que remete a lendas do período como John Paul Jones, Dennis Dunaway da Alice Cooper Band e, por que não, Paul McCartney. Do início auspicioso, porém ainda bruto, com o debut auto-intitulado de 2013, passaram em 2016 ao ótimo “Fly Camel Fly”, que encontrou a exata pulsação vintage na qual a banda focaria seus mais eficazes esforços – ou seja, Psicodelia com Groove aos moldes de Grand Funk/Cream/Trapeze, em chave adotada por outras bandas modernas, como o sueco Spiritual Beggars e o alemão Kadavar. “Fields of Unconscious”, lançado em 2020 pela Skronk Records (a Heavy Pshych Sounds editou os dois primeiros) mantém o conjunto em território vencedor: estética caleidoscópica, melodias fartamente Claptonianas e ginga pra dar e vender.