Uma rápida varredura por todas as atualizações dessa coluna revela um padrão: boa parte das bandas da nova geração sueca possui maciça presença de mulheres em suas line-ups – e elas são, arrisco-me a dizer que na plena totalidade das formações abordadas, responsáveis diretas pela maturação musical, pela energia criativa e, principalmente, pela personalidade apresentada pelos conjuntos. Os três nomes selecionados desta feita são bastante variados entre si, mas compartilham a determinante força feminina como a mola propulsora de seus predicados formais, de suas particularidades estéticas, e, em especial, do notável resultado de seus esforços artísticos. Conheça-as imediatamente, pois.
SPIDERS
Algumas bandas dantes comentadas nesta coluna (Hot Breath, Honeymoon Disease, Acid’s Trip) se assemelham não somente em relação ao mulherio em posições de inconteste liderança, mas também no direcionamento sonoro: algo que mistura atitude Sleaze com a crueza do Garage Rock sessentista e uma fixação neurótica em Thin Lizzy. Pois bem: anterior a eles, o Spiders é como se fosse a “mãe espiritual” dessa galera, pois trabalha na mesma vertente que as citadas de início, porém aqui a reverência é acima de tudo às Runaways, com Lita Ford personificada através da vocalista e badass de plantão Ann-Sophie Hoyles. Vindo de Gotemburgo e com atividades iniciadas em 2010, o quarteto contabiliza três full lengths (dois deles, “Shake Electric”, de 2014 e “Killer Machine”, de 2018, são obra da Universal Music, o que faz do Spiders o primeiro contratado por gravadora major citado em nossa seção).
MAIDAVALE
Nephila, Children Of The Sun e Heavy Feather, já mencionados por aqui, apostam em sonoridades Psicodélicas e clima ripongo para passar seu competentíssimo recado. O MaidaVale, quarteto vindo de Farösund, cidade de 800 (!!!) habitantes localizada na ilha de Gotlândia e que se define como “Experimental Rock”, é formado exclusivamente por mulheres com a intenção de, a princípio, fazer um som voltado à mesma proposta. Seu debut, “Tales Of The Wicked West”, editado pela The Sign Records em 2016, jamais disfarça inspiração em Led Zeppelin, seja em riffs puramente “Jimmypageanos”, seja nos diversos momentos mais Bluesy. “Madness Is Too Pure”, também The Sign, de 2018, por sua vez, não abdica de todo da vocação lisérgica, porém adiciona abundantes rendições New Wave/pós-Punk à fórmula. Um terceiro disco nos dirá o caminho que as garotas realmente tencionam seguir.
AMAUNET
As mulheres se fazem presentes em diversos estilos praticados na Escandinávia, inclusive no Indie Rock de tratamento mais Lo-fi, gênero abordado pela primeira vez nesse espaço. O quinteto Amaunet finca bases nos anos 80 (Echo And The Bunnymen, Electronic), complementado por ingredientes do som alternativo da década seguinte (Pixies, Placebo). A discreta baixista Josefin Hedberg é aplicada discípula de Peter Hook e Simon Gallup, e encaixa suas frases em meio ao clima etéreo/texturizado de belas canções como “Silver Sunlight” e “Violent Renaissance”, ambas do EP “While I’m Living”, lançado ano passado pela Lovely Records.
Os quase 93 mil habitantes de Lund, cidade localizada no extremo sul da Suécia, parte da área metropolitana de Malmö e fundada ainda no século X (o que a torna uma das localidades mais antigas do país), já possuem trilha sonora local para suas recaídas saudosistas.