Uma característica muito bacana dessa nova geração Stoner proveniente da Itália é ver que a galera curte um suingue. Não, seu mente suja, não estamos falando de bandas chegadas em trocas de casais, e sim de uma turma que sabe que o Rock’n’roll nasceu como um gênero para animar festinhas e colocar os presentes para chacoalhar as ancas (não à toa que Elvis Presley ganhou o apelido de “The Pelvis”: a dança era parte intrínseca de sua arte, e determinante para o caráter revolucionário que a carreira do astro assumiria ali nos anos 50). As três aqui listadas curtem um bom Groove, contudo a serviço daquilo que a música possua de mais visceral, e respondem por uma obra com aquela rascância que o aficionado sempre deseja ouvir, mas também com características que agradariam a públicos bem mais amplos, sem com isso comprometer seus objetivos e integridade. Vamo aí?
KILLER BOOGIE
O Boogie Rock é, segundo a Wikipedia, um estilo derivado do Blues, “desenvolvido nos anos 60 e de ritmo repetitivo, com ênfase no Groove”, diferente de outro gênero anterior e com nome similar, o Boogie-Woogie, popular nas décadas de 30/40 e que, com o piano na linha de frente, tornou-se referência determinante para desbravadores como Fats Domino e Jerry Lee Lewis. O Killer Boogie, trio romano com dois full lengths no currículo (“Detroit”, de 2015, e “Acid Cream”, de 2018), conta com voz e guitarras do incansável Gabriele Fiori, também do Black Rainbows e chefão da gravadora do grupo, a Heavy Psych Sounds; porém, do Boogie clássico eles herdaram apenas a suingueira: aqui lidamos com rock cru, 100% vintage, cheio de ecos na voz e com um timbre de seis cordas cuidadosamente acre, que ajuda a forjar belezuras como as incríveis “Summertime”, do primeiro disco, e “Atomic Race”, do segundo.
THE CLAMPS
Os Stoners italianos veneram formações em trio, essa que tanto remete ao que simboliza o tutano do Rock’n’roll clássico, ou seja, aquela capacidade mágica de produzir o máximo de decibéis mesmo com um mínimo de equipamento. Diretamente de Bergamo, cidade localizada na região da Lombardia e sede do clube de futebol Atalanta (que já contou com jogadores de renome como o brasileiro Evair e o argentino Claudio ‘El Pajaro’ Caniggia), o The Clamps apresenta um trabalho que mescla a atitude sacana de um Supersuckers ou de um Turbonegro, a crueza sem concessões do Motorhead (o riff de “Gazza” é puro Fast Eddie Clarke), e com a casmurra crença que a vida pode (e deve) ser regada a cerveja, libertinagem e barulho. “Blend, Shake, Swallow“, o segundo álbum e primeiro editado pela Heavy Psych Sounds, em 2017, traz a banda em sua melhor representação até aqui.
LOOSE SUTURES
Vindo da Sardenha, região conhecida por suas praias paradisíacas (e já abordada no texto anterior graças ao 1782), esse quarteto define-se em seu press release como uma banda que “toca riffs setentistas clássicos com uma pitada de espírito Garageiro e da moderna atitude Punk”. Dificilmente poderiam ser mais certeiros: aquele tão bem-vindo clima rudimentar de MC5/Stooges e da histórica coletânea “Nuggets” se mistura a sonoridades modernas na veia de um Nebula ou até mesmo McLusky, enquanto paga-se tributos a nomes que vão de Blue Cheer a Queens Of The Stone Age. O Loose Sutures reúne em si agressividade, festa e desencanação, enquanto passeia, sem pudores e de maneira precisa, entre o Stoner, o Alternativo e até mesmo o Sleazy. Dois álbuns na conta: “Loose Sutures”, de 2020, e “A Gash With Sharp Teeth And Other Tales, de 2021″, ambos editados pelo selo local Electric Valley Records.
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